(Artigo publicado originalmente em O Ponto Base, em 3 de Abril de 2013)
Vamos jogar um jogo divertido? Anote suas respostas para conferir o resultado depois.
Se eu lhe oferecesse a seguinte escolha:
(1) 100% de certeza de ganhar R$ 1.000,00
(2) 50% de chances de ganhar R$ 2.500,00, e 50% de chances de não ganhar nada
Qual das duas você escolheria? (anote)
Agora, se eu lhe oferecesse outra escolha:
(1) 100% de certeza de perder R$ 1.000,00
(2) 50% de chances de perder R$ 2.500,00, e 50% de chances de não perder nada.
Qual delas você escolheria? (anote)
Se na primeira você escolheu a opção 1, e na segunda escolheu a opção 2, você agiu como esperado, e fez as escolhas que a grande maioria dos seres humanos faria. Infelizmente, devo lhe informar que a grande maioria dos seres humanos perde dinheiro no mercado financeiro.
Este é um caso típico de emoções se sobrepondo a lógica na tomada de decisões. Nós, seres humanos, temos aversão à incerteza. Entre um ganho garantido de R$ 1.000,00, e a possibilidade de ganhar R$ 2.500,00 ou não ganhar nada, escolhemos o que é garantido, o que é previsível e certo. “Lucro bom é lucro no bolso”.
Porém, no caso inverso, ou seja, quando lidamos com as perdas, preferimos não escolher a perda certa e garantida de R$ 1.000,00, contra a possibilidade de não perder nada, ou perder R$ 2.500,00. Aqui, novamente vemos as emoções embotando nosso raciocínio lógico.
Se você escolhe ganhar R$ 1.000,00 porque isso é líquido e certo, mas está disposto a se arriscar a perder R$ 2.500,00, apenas para ter uma chance de não perder nada, está jogando contra toda e qualquer probabilidade de sucesso, já que, a cada rodada do jogo, você tem a esperança matemática de ganhar apenas R$ 1.000,00 reais, contra a possibilidade de perder R$ 1.250,00 (R$ 2.500,00 / 2). Resultado final: -R$ 250,00 por rodada.
Curiosamente, é justamente a nossa intolerância às perdas que nos leva a agir exatamente do modo que praticamente as garante. Esse viés comportamental, resultado da influência das nossas percepções emocionais sobre nossa mente lógica, apesar de ser perfeitamente normal, pode ser o maior inimigo de um especulador no mercado financeiro. É ele que nos leva a realizar lucros cedo demais, enquanto suportamos as perdas por mais tempo do que seria racional. O resultado é sempre o mesmo: Prejuízo certo.
Essa descoberta foi feita por Daniel Kahneman e Amos Tversky no trabalho “Teoria das Perspectivas” (Prospect Theory), que rendeu a Kahneman o Nobel de Economia em 2002. Como Tversky já havia falecido, não pôde receber o prêmio junto ao parceiro. O estudo faz parte do que veio a ser conhecido como “finanças comportamentais” (Behavioural Finance).
A resistência de um trader em realizar um prejuízo o leva, muitas vezes, a esperar que a posição volte à zona do lucro, e isso acaba expondo-o a mais perdas. A sensação de perda é desconfortável, por isso a maioria prefere resistir, do que entregar os pontos. O resultado final pode ser ainda mais doloroso.
De modo inverso, pequenos lucros deixam alguns traders ansiosos para que sejam realizados rapidamente, pois só de pensar na possibilidade da posição inverter, e o que era lucro, virar prejuízo, já cria uma sensação de desconforto emocional. Sensação que queremos evitar a todo custo. Muito melhor ter uma vitória, ainda que pequena, para podermos nos orgulhar de nós mesmos.
E assim, garantimos matematicamente o nosso próprio fracasso.
Obviamente, investidores com horizonte de longo prazo, que utilizam um bom modelo de alocação de ativos, e selecionam seus papéis com base em bons modelos fundamentalistas, podem ignorar o conselho a seguir.
Já os traders que apostam valores maiores em operações direcionais e especulativas, precisam aprender a cortar suas perdas rapidamente, ou perecer.
Se a sua posição de R$ 10.000,00 sofre uma perda de 50%, e passa a valer R$ 5.000,00, será necessário obter um ganho de 100% na próxima operação apenas para voltar à estaca zero. De maneira inversa, se seus R$ 10.000,00 originais se transformarem em R$ 20.000,00 após um ganho de 100%, basta uma operação com perdas de 50% para que você esteja novamente no mesmo lugar onde começou.
Por conta disso, aprender a cortar rapidamente as perdas, e deixar os lucros fluírem, são condições necessárias para que um especulador sobreviva e prospere no mercado financeiro. Só que isso vai contra a natureza (emocional) humana, e por isso mesmo, tão poucos logram sucesso nessa empreitada.
A segunda coluna da tabela abaixo mostra quanto será necessário obter de rendimento positivo após a perda registrada na primeira coluna, apenas para empatar o jogo. Essa tabela também pode ser usada no sentido contrário, ou seja, para cada ganho observado na segunda coluna, basta perder o que consta da primeira coluna para voltar ao zero a zero.
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Ok, a teoria foi entendida, mas como colocá-la em prática? Em primeiro lugar, defina antecipadamente o grau de risco que está disposto a correr. Você está preparado para perder quanto de sua posição especulativa sem perder o sono? 10%? 20%? 50%?
Olhe bem a tabela acima antes de responder, e compare o que será preciso obter de resultado em cada caso para poder anular tais perdas.
Definido esse limite, pratique-o sem dó. Quando sua posição atingir o seu nível limite de prejuízo tolerável, LIQUIDE-A IMEDIATAMENTE, sem se permitir segundas opiniões.
Fácil? Não, não é. Mas se fosse, que graça teria?
E quando estiver ganhando, ao invés de liquidar rapidamente sua posição lucrativa, aprenda a estabelecer níveis de stop com base na análise técnica. Dessa forma, a cada nova pequena retração nos preços, onde um novo fundo é formado, você pode subir o nível de seu stop constantemente, até que ele seja executado. E quando ele for atingido, LIQUIDE a posição imediatamente, da mesma forma que fez com as perdas.
Dessa forma, você garante que seus prejuízos permaneçam pequenos, enquanto permite que seus lucros possam crescer além do que sua ansiedade permitiria.
Matemática, estatística, cálculo, tudo isso é extremamente importante para o sucesso no mercado financeiro. Mas se você tiver tudo isso, e não tiver compreensão de como suas emoções podem passar por cima dessas ferramentas, perderá seguidas batalhas, até ter perdido a guerra, exausto e falido.
Todas as ferramentas podem ser úteis, mas a beleza maior do mercado é que a grande ferramenta que o faz funcionar, é o ser humano. Dessa forma, o mercado deixa de ser visto apenas como um lugar frio, técnico e desumano, onde se pode ganhar (ou perder) muito dinheiro, e mostra-se como uma incrível experiência de autoconhecimento, e um excelente lugar para se desenvolver como pessoa.
Seu resultado financeiro será então, diretamente proporcional à sua capacidade de desenvolvimento como ser humano.
Meritocracia maior, não existe.
Um forte abraço.
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